Primeira leitura: Sb 7,7-11 Salmo 89 (90) Segunda Leitura: Hebreus 4,12-13 Evangelho: Marcos 10,17-30.
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Hoje celebramos o
vigésimo oitavo Domingo do Tempo Comum. A Liturgia da Palavra deste dia traz
para nós, o tema da sabedoria como fonte de discernimento dos pensamentos e das
intenções do coração do homem. Trata-se de um tesouro muito precioso, que dela
derivam muitos bens, e quem alcança este dom abre o coração para ganhar a vida
eterna. Mas que sabedoria é esta?
Na primeira leitura (Sb 7,7-11), o autor afirma ter orado ou rezado e foi dado a prudência e após ter implorado foi concedido o espírito de sabedoria. Por conseguinte, ele preferiu a sabedoria aos ceptros e tronos do mundo, porque para ele a riqueza era menos importante. Quando investimos a nossa vida em busca da sabedoria usando a capacidade ou faculdade intelectual que recebemos de Deus tornamos a nossa vida valer e também a vida dos irmãos, sobretudo os mais vulneráveis, pobres e desamparados. Para o contexto social, político e económico em que vivemos é controverso enaltecer os valores divinos, virtudes e a defesa da vida humana, porque o mundo coloca no pedestal a riqueza, dinheiro, fama, prestígio, sucesso e reconhecimento, que muita das vezes têm sido o pivô dos conflitos, endurecimento dos corações que dificultam a boa relação com Deus e enfraquecem a fraternidade humana.
Como ser seguidor de Cristo num contexto como este, que prega a lógica da busca da felicidade desenfreada? Para dizer a verdade é muito desafiador, assim como foi difícil para o jovem que estava à beira do caminho do evangelho de hoje (Mc 10,17-30). Alguém que havia investido em toda sua vida muita riqueza. Ele tinha tudo, cumpria os mandamentos da Lei de Deus. Aparentemente ele havia garantido a vida eterna. Porém, apesar de tudo o que havia conquistado e sido fiel à prática do decálogo, ele sentia um vazio profundo dentro de si, que lhe fez perceber que tanto a riqueza quanto o legalismo religioso não conseguiram preencher o seu vazio e resolver o problema da aridez. Foi aí então que, ao ver Jesus passando no caminho, o jovem correu até Ele, chamando-O de mestre, perguntou-lhe sobre o que podia fazer para alcançar a vida eterna. Ele viu em Jesus Cristo, como o mestre da sabedoria que lhe passaria uma receita magica e pronta para alcançar a vida eterna sem custar-lhe a vida. Jesus sabiamente o acolheu com amor, e depois de ter dialogado com ele, orientou-lhe a ir vender tudo, dar dinheiro aos pobres e por fim se tornar o seu discípulo. Esta era a condição primária para alcançar a vida eterna e o reino de Deus. O jovem aceitou?
Com base o evangelho, ele ficou muito triste e voltou para sua casa porque não estava preparado e nem disposto para partilhar com os pobres tudo o que havia investido com as suas energias. Para ele, doar a sua riqueza, significaria perder a sua própria vida, porque ali estava a sua segurança e nada valia mais diante de Deus. Ao perceber a resistência do jovem, Jesus falou para os seus discípulos a razão pela qual os ricos encontram dificuldades para entrarem no reino de Deus. Esta catequese dada por Jesus perturbou muito os seus discípulos e da mesma forma continua perturbando a todos nós hoje. Uma coisa é clara para: Jesus não disse que os ricos não têm condições de entrar no Reino de Deus, mas que eles tinham a dificuldades. Isso quer dizer que Jesus não está contra a riqueza e os ricos. Porque muitas das vezes cai-se no fundamentalismo e emitem-se juízos condenatórios contra os ricos e a riqueza através desta passagem bíblica. O que faz com que os ricos sofram preconceito, incompreensão e perseguição, mesmo dentro da Igreja.
A catequese de Jesus
sobre o perigo da riqueza, não é só direcionada para os ricos, mas também aos
pobres, ou seja, todos os que seguem o seu caminho de discipulado. Uma pessoa
pode ser rica e ter a sabedoria divina, viver a fé cristã com compromisso e partilhar
os seus bens com a própria Igreja e os pobres. Da mesma forma, alguém pode ser
pobre e não se comprometer com os valores do evangelho, se apegar aos poucos
bens materiais que possui, viver de maneira arrogante e desrespeitar as
pessoas. Então, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Este evangelho não
tem a finalidade de condenar os ricos e coloca-los no inferno, e nem tem a
motivação de iludir os pobres não convertidos e arrogantes que não se
comprometem com Deus e nem buscam a sabedoria para discernir os seus
pensamentos e intenções. Nem tem o objectivo de engrandecer a pobreza como um
elemento ideal para o Reino de Deus e a sua justiça, o que seria um desrespeito
muito grande com milhões de pessoas que vivem na pobreza no mundo inteiro. Mas,
ele pretende enaltecer o desprendimento de quem sabe conformar-se com o pouco
que tem e sabe partilhar com os pobres sem cair na idolatria do dinheiro ou da
riqueza como um bem superior, como Cristo, é o nosso modelo supremo, fez e
viveu; sendo rico, fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza.
Mensagem Trata-se de um
ensinamento para todos os cristãos. O caminho é o mesmo para todos, tanto para
os ricos quanto para os pobres. Uma vida arraigada em Deus e na sua sabedoria
para o alcance da vida eterna e comprometida com a partilha dos bens materiais
com os mais pobres.
Embora a opção voluntária pelo
despojamento e pela pobreza seja muito difícil, felizmente tudo é possível com
bênção e a graça de Deus, pois para Ele tudo é possível. Ele é capaz de fazer
maravilhas a quem a Ele se abre totalmente. Quem se esvazia de si mesmo, diante
de Deus e se desprende do apego aos bens materiais poderá se surpreender que
não lhe falte nada, como assegura o próprio Jesus Cristo ao apóstolo Pedro. Para
que isso seja possível, precisamos deixar que a Palavra de Deus molde os nossos
corações, pois ela é poderosa, como ouvimos na segunda leitura: (Hb 4, 12-13), que
ela é a espada de dois gumes que ao cortar penetra os corações humanos e alcança
o mais íntimo e segredos do homem. Uma vez ouvida com vontade, tem o poder de
transformar e guiar as pessoas porque ela é a própria sabedoria.
Estamos no mês de
outubro, mês de grande valia para a Igreja Católica, porque é o mês dedicado as
missões. Por isso, agradeçamos a Deus por todos os missionários em virtude do
Sacramento do Baptismo, mas também os que se consagraram especificamente para servir
a Igreja, que todos se comprometem no anúncio da palavra de Deus. Rezemos para
que o Senhor lhes conceda o dom da sabedoria para que evangelizem com amor e
sempre se dediquem ao cuidado das ovelhas. Amém.
Pe. Armindo Paróco do S. Agostinho, Vigario Episcopal da Vigararia leste |
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