Hoje celebramos o Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum, do Ano B. A Palavra de Deus deste dia enriquece-nos com a partilha, tema fundamental e indispensável para a construção de uma comunidade e sociedade solidária e justa. Sem a partilha, é impossível haver solidariedade na comunidade entre irmãos, pois é por meio dela que podemos construir um mundo melhor, sem fome e sem pessoas necessitadas, alienadas e dependentes.
Para que haja uma partilha propriamente dita, é necessário considerar algumas orientações explícitas na primeira leitura (2 Rs 4, 42-44) e no Santo Evangelho (Jo 6,1-15), que podemos seguir. Antes, porém, vale salientar o paralelismo entre as duas leituras. Na primeira leitura, o homem da povoação de Baal-Salisa leva pães para Eliseu, que pede ao servo para doá-los ao povo esfomeado. O servo duvida que os pães sejam suficientes, mas, após a insistência de Eliseu, os pães são dados ao povo, que come e ainda sobra.
O Evangelho narra um cenário idêntico: Jesus compadece-se do povo e pede aos discípulos que dêem algo para comer. Felipe questiona onde comprar pão suficiente e, mesmo que André perceba um rapaz com cinco pães e dois peixes, tudo parece insuficiente. Jesus pede que o povo se sente, toma os pães, dá graças e distribui. O povo alimenta-se satisfatoriamente, e ainda sobram doze cestos de restos. Ambos os textos são profunda e teologicamente ricos e podem ser refletidos em três dimensões: profético-messiânica, eucarística e eclesial. Aqui, vamos deter-nos nas duas últimas dimensões: eucarística e eclesial.
Este paralelismo remete-nos ao cenário da última ceia, na instituição da Eucaristia. Jesus leva o pão, dá graças e entrega-o aos seus discípulos. Ali, Ele próprio se entrega: “O pão que Eu vos darei é a minha carne para a vida do mundo.” (Jo 6, 51). Jesus partilha a sua vida e o seu amor em favor da humanidade, o povo faminto. Ele procedeu na sua plenitude com humildade, mansidão e paciência, suportando-nos apesar dos nossos pecados, porque Deus o fez vínculo da paz e esperança na vida pela qual foi chamado, como o Apóstolo Paulo elucida na segunda leitura de hoje (Ef 4,1-6).
Mensagem O relato da multiplicação dos pães é um “sinal” que provoca uma confissão de fé em Jesus Cristo, que partilhou sua vida divina para a salvação da humanidade e nos ensinou a partilhar o pouco que recebemos de Deus: fé, esperança, caridade, amor, pão e riqueza. Para que isso aconteça, é preciso lutar para vencer a ganância e o individualismo, acreditando que é possível construir um mundo melhor por meio de ações concretas e compromisso. Eliseu e Jesus não fizeram mágica para multiplicar os pães; apenas ensinaram os seus servos a partilhar o pouco que tinham, pois é partilhando o pouco que cada um tem que a multiplicação acontece, fruto de amor.
Esta, portanto, é a catequese para nós hoje: partilharmos com o coração generoso e não duvidarmos, pensando que o pouco que temos é insuficiente, e que a partilha só é possível por meio de magia. Vivemos num mundo e contexto de muita desigualdade social e económica, onde os que vivem na base social são muito distintos dos que vivem no topo, os mais ricos, inclusive no nosso país, onde há muitos que passam fome, não só de pão material, mas de palavra, de Espírito Santo, de dignidade e de direitos humanos, de cultura, paz, justiça, solidariedade e realização pessoal.
Rendamos graças ao Senhor pela vocação do diácono Tomé Reula, filho desta diocese, que será ordenado sacerdote neste domingo, 28 de Julho, como sinal da sua doação à Igreja e aos irmãos. Que o Senhor lhe conceda inúmeras graças e bênçãos, para que o seu ministério sacerdotal seja fonte de partilha generosa e incondicional, fruto da sua entrega, e para que a sua missão seja fecunda. Amém.
Pe. Armindo Paróco do S. Agostinho, Vigario Episcopal da Vigararia leste |
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